quarta-feira, dezembro 26, 2007

A HISTÓRIA DO ALUNO ANGOLAH

Trabalho feito nas aulas de Artes para o
Projeto África - 2007 - EBM Machado de Assis - Blumenau - SC



Morche Ricardo Almeida

Pela calçada alegre vem
o garoto pra sua escola.
Veio do multiculturalismo
de outros povos étnicos
pra diversidade do Brasil
em matrizes e gêneros.

O aluno Angolah
nasceu na África;
imigrou pro Brasil;
visitou São Paulo;
morou no interior;
conheceu o Rio;
brincou carnaval.

Tomou banho de mar.
Andou muito a cavalo.
Que amigo é Angolah!

Angolah!
Angolah!
Angolah!

Fale de seu pai, Angolah.
Ele é um grande músico
e professor de Matemática;
um estudioso das estrelas.
Conhece as estrelas do céu,
conhece as estrelas do mar.

O aluno Angolah
primeiro dia dele
na nova escola:
desenhou os pais
como lhe pediu
a sua professora.
Depois do desenho,
contou histórias

da África
os mitos,
as crenças.

O aluno Angolah
fez muitos amigos,
jogou muita bola,
pulou muita corda,
girou no balanço,
como gira o mundo
sem parar Angolah
e sem descanso.

E Angolah caiu
e chorou muito.

Sossegou de brincar.

Teve medo Angolah
dos desconhecidos;
um amigo o encorajou:

- Que é isso, Angolah?
Deixa disso, deixa disso!

Angolah!
Angolah!
Angolah!

Conte mais histórias;
vem. Quem corre mais,
Angolah, atrás da bola?
Angolah!
Angolah!
Angolah!

Como deve ser a África?
Uma colcha de retalhos
rasgada por europeus,
costurada por africanos.

Veio do continente africano
dos seus muitos países;
Angolah filho de angolanos.

O Brasil sentiu frio,
numa noite de trovões;
a escola descobriu
quem ajudaria o Brasil
a não sofrer tanto frio;
foi a colcha de retalhos
do menino africano
quem cobriu o Brasil.

Todos da escola,
na Serra dos Almeidas,
foram conhecer
a família de Angolah.

Os pais trabalhadores
foram convidados,
e passaram a morar
na Serra dos Almeidas,
onde o Sol brilha,
jardins explodem flores,
os pássaros burilam.

Venha ver, Angolah!
ontem, tinham jasmins;
hoje, orquídeas, rosas,
uns lírios e margaridas.
Lugar mágico de flores.
A Serra dos Almeidas
é a terra dos tambores.

Era a serra mais alta;
uma boa serra dessas
pra se estudar estrelas.

- Quem é sua mãe, Angolah?

Minha mãe é Luanda,
de tranças no cabelo,
encantadora mulher;
e o meu pai é Zimbábue.

Era o professor Zimbábue
quem falava de suas mães,
de experiências passadas;
e tinha um samba no pé.
Dizia enxergar o mundo
da cacunda de seus pais;
falava quibebe e bumbar,
às vezes, ficava zangado,
gritava: Sai, daí, moleque!
No caçula fazia cafuné;
pegava um bom molambo
e, com esse seu pano,
ele lustrava o seu carro;
pedia ajuda a Angolah;
falava com seus orixás;
gostava de comer acarajé.
E Luanda preferia maxixe;
a família gostava mesmo
das liturgias do candomblé.

Eu também sou América,
costumava dizer Angolah,
e, no Brasil, seus amigos
lhe pediam um abração,
do tamanho da amizade:

- Amigo, Angolah, como é a África?
Deslumbravam-se os seus colegas.

E Angolah desabava a falar
das montanhas e dos vales,
das florestas e dos animais,
de suas religiões africanas;
e de suas inúmeras riquezas,
e do petróleo e das ciências,
do ouro, da prata, do diamante,
e da evolução da consciência.

- O que é kizomba, Angolah?

- Essa é nossa palavra africana;
significa encontro de identidades
ou festa das confraternizações.

Angolah falou palavras novas,
traduziu poemas e poetas
e inúmeras cantigas de ninar.
Esta é a história de Angolah.